Sentenças irrevogáveis


Passado os tempos de infância pensava que a adolescência fosse o único período de dúvidas, de sofrimento emocional ao longo da vida. Dali para frente seria estável como as montanhas e teria todas as respostas.
Os adultos que eu conhecia não tinham dúvida só certezas e sentenças irrevogáveis.
Exerciam sua autoridade e cheios de certezas exigiam obediência, respeito, e não admitiam questionamento.
O tempo passou. Não me trouxe nem respostas, nem a clarividência que eu julgava atributo da idade.
A adolescência foi sim, uma fase conturbada. Vi que precisava me desvencilhar da teia que me sufocava e proibia qualquer esperança, qualquer visão. São tantos os fios invisíveis que nos paralisam e que constituem os pilares de nossa formação! São tantas as mentiras, culpas, dogmas, medos, tanto entulho a sabotar nossa energia.
Procurei reconstruir do zero a maior parte das estruturas que me haviam imposto, mas sinto este processo não tem fim.

Veio a vida adulta e, nesta que nos colhe na engrenagem com suas faturas a pagar, tarefas a cumprir, papéis a desempenhar que mal sobra tempo para nos conhecer. Talvez seja assim porque temos medo. Eu tive e ainda tenho todos.
E assim não queremos tempo livre, nem ficar sozinhos e por isso nos atrelamos a qualquer coisa que nos dê uma rotina, um sentimento de pertencer e que nos permita não pensar.
Mesmo assim, nas horas quietas ouvimos a voz noturna de rios subterrâneos, e para nosso espanto, vemos emergir pensamentos independentes e transversos, templos soterrados, buracos negros, mundos insuspeitos.
Somos bichos, animais mamíferos, e também somos um mistério.

Minha cabeça continua bem, no lugar, sem nenhum corte da rainha, pensante e determinada como sempre...
Errada ou não sou eu. Queria avisar que estou bem. Sei que tem uma turma de amigos queridos que anda preocupada comigo achando que estou meio down. Não estou não. Só para constar tá?!
Esse texto aqui é público, então acabo tendo que medir minhas palavras apesar de adorar refletir abertamente meus sentimentos diários.
Não é prudente sair tirando minhas verdades e jogando em um lugar que as pessoas vão ler.
Mas, posso garantir que estou bem. Continuo me atualizando, planejando, me informando, escrevendo e lendo meus livros enquanto o sono não chega, assistindo aos velhos e novos filmes, dormindo quando bate o sono e olhando pro céu rezando conscientemente.
Afinal, somos sim autores de boa parte de nossas escolhas e omissões, audácias e acomodações, nossa esperança ou desconfiança. Responsáveis por como saboreamos o nosso tempo, a nossa época, que, afinal, é sempre AGORA!!!!!!!
Yvone Pereira

6 comentários:

  1. Oi, Yvone! Eu tb tinha essa expectativa em relação à maturidade... um tempo de plenitude qdo teria todas as certezas que meus pais e avós tinham. Com o tempo descobri que eles não tinham tantas certezas assim e só escondiam seus medos atrás de tanta severidade. Achei que estaria aos 30 tão completa como desejava ser, mas continuei a mesma tolinha que era aos 20. Os 40 foram anos melhores, mas só os 50 (que completei este ano) me encontraram mais serena como sempre sonhei ser, embora dúvidas e medos ainda existam.
    Bom saber que vc está bem!
    Abraço!

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  2. Yvone vc escreve e descreve perfeitamente bem o que é minha vida agora, é como se esse texto fosse uma extensão do que sinto e penso; decidi pela paz e tranquilidade e hoje um pouquinho mais madura e tico mais segura, estou fazendo as minhas escolhas, escolhas e vivencia do que, julgo eu, ser o melhor para mim.Ainda não tenho a serenidade que quero,mas não me apresso por isso,pois sei que ela vem. Bjusss e obrigada por sabias palavras.

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  3. Oi, Yvone!
    Talvez ser maduro seja sinônimo de saber sufocar de modo eficiente os medos ou qualquer sentimento que contradiga o que a sociedade nos impõe... E manter o rosto sereno mesmo quando abaixo da superfície tudo esteja em reviravolta.
    Tem gente que finge bem! (rs*)
    Olha esse texto: A Rebeldia fundamental
    Beijus,

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  4. YVONE,

    estas dúvidas serão eternas, até pelo fato de que quando nós descobrimos as respostas, invariavelmente, eles mudam as perguntas.

    Muito bom texto!

    Um abração carioca

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  5. EM TEMPO:

    sou seu mais novo seguidor por aqui e voltarei sempre.

    É uma ameaça! (rsrs)

    Um abração carioca

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  6. Oi, bom tudo, Ypsilon
    Eu vim aqui, nesta noite de sábado, lhe trazer um verso, para você, refletir conosco:
    I
    Lágrimas despejadas, amargas, em desobrigas de ir embora.
    E já não basta terços, rezas e patuás, que outrora consolava
    Em rodas de ritos, a cólera maldita, assobiante com o ebola
    Agride a terna Mãe África, desesperada, pelos filhos, chora.

    Um abraço

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